quarta-feira, 25 de março de 2009

Palmadas

A palmada deixa cicatrizes como baixa auto-estima, agressividade, medo, insegurança e sensação de impotência. A criança experimenta dor, humilhação, tristeza, angústia, ódio, raiva e vergonha. "Toda palmada é um ato violento e a pouca força que os pais acreditam aplicar num tapa nem sempre é a mesma percebida pela criança", diz Longo. Ele ressalta que as seqüelas podem ou não aparecer em conseqüência de aspectos como o equilíbrio do ambiente familiar, a freqüência com que a criança apanha e sua personalidade. É claro que, quando batem em seus filhos, os pais não querem simplesmente humilhá-los. A palmada é dada com a melhor das intenções: educar a criança para que ela conheça seus limites e se torne um adulto responsável. Só que há outras formas de educar.
Os pais também precisam saber que ela pode provocar o efeito inverso: fazer com que a criança perca o respeito por eles. "Principalmente aquela palmadinha que não dói. A criança sente-se castigada mas não chega a ter medo da punição, o que equivale a um passe livre para transgredir", diz a psicóloga infantil Ana Esther Cunha. A palmada pode iniciar uma espiral de violência que conduz os pais às surras e aos espancamentos. "Quando a palmadinha já não surte efeito, a dose da agressão aumenta para intimidar a criança", diz Ana Esther. "A conseqüência é o medo que estimula a criança a mentir", acrescenta a psicóloga Raquel Caruso Whitaker, do Centro de Aprendizagem e Desenvolvimento.
As situações que levam à palmada normalmente estão relacionadas a limites. À medida que cresce, uma enorme curiosidade impulsiona a criança a querer descobrir tudo. E os pais, alvos preferidos das experimentações infantis, têm de delimitar as fronteiras. Os especialistas sugerem que façam combinados com o filho. São como contratos, que devem ser acertados antes dos confrontos. Se seu filho teima em criar problemas na hora de vestir-se para a escola, converse antes com ele, explique a importância da pontualidade e decidam em conjunto qual será a punição caso o acordo não seja cumprido. O castigo deve ser sempre compatível com a idade e relacionado à transgressão cometida.
A médica homeopata Cristina Mara Ferreira Fazilari, mãe de Andressa, 5 anos, é adepta dos combinados e abomina a palmada, mas se descontrolou uma vez. Foi quando a filha ganhou um presente de uma amiga e atirou a caixa no chão antes de abri-la ao saber que era uma roupa. "Achei absurdo", conta. Arrependeu-se e, para não extrapolar quando é enfrentada pela filha e está muito nervosa, pede que Andressa vá para o quarto, tenta se acalmar, e só depois retoma o assunto. "Esse tempo permite que a mãe retorne ao seu equilíbrio e pense numa punição pertinente", diz a psicóloga Ana Esther. Normalmente, Cristina conversa muito com a filha quando há um impasse, tenta explicar o que está errado e o porquê, mas às vezes é obrigada a apelar para o castigo. "Eu cumpro o que ameaço, sei que é para o bem dela. Prefiro isso a bater", afirma. À noite, quando coloca Andressa para dormir, faz questão de elogiar seus comportamentos positivos, mas também comenta os problemas. Com essa atitude, asseguram os especialistas, a criança aprende a tolerar melhor as frustrações em pequenas doses. "Evita que os pais, ao repreenderem o filho, sejam surpreendidos por uma explosão emocional de uma criança que é lembrada dos seus limites com pouca frequência", explica Ana Esther.

Educar sem bater dá trabalho, mas é compensador. "Forma pessoas mais conscientes", defende o psicólogo Longo. Ele compara o resultado da educação autoritária e das correntes mais liberais. É como dois adultos que param no sinal vermelho no trânsito. Aquele acostumado a só obedecer mediante punição vai parar com medo da multa. O outro, que cresceu valorizando o diálogo e compreendendo os motivos das proibições, pára em respeito à vida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário